Healing 1.0

 Magoa-me ler as páginas que escrevi aqui e relembrar-me de toda a dor que carregava comigo. Às vezes esqueço-me que a maior parte da minha vida estava a tentar sobreviver a algo invisível que não conhecia. Agora que os resquícios dessa dor me assaltam a horas ingratas da madrugada, recordo todas as lágrimas e dores de peito que me assombravam, juntamente com a minha mente, que se assegurava que eu não me esquecia de todas as coisas que podiam correr mal. 

Estou melhor. Consigo respirar pela primeira vez. E há algo de tão triste nisso. Construí um muro para impedir que a minha sensibilidade fosse tão frágil, mas esse muro está a impedir-me de alcançar a fragilidade que dantes me permitia ver o mundo de uma maneira mais especial. Tenho medo de ter abandonado isso para sempre. De ter que ter abdicado dessa parte de mim de modo a viver em paz. Não sei se me orgulho tanto desta pessoa em que me tornei. Porquê que viver em guerra é tão confortável? 

Voltei a sentir-me sem esperança. Foi como voltar a casa, não vou mentir. A dor assustou-me tanto, embora uma parte de mim tivesse respirado de alívio por ela ter regressado. Há menos coisas a perder quando não desejo mais para a minha vida. 

Mas eu quero mais. Agora eu sei o que é viver e eu quero mais. Tenho uma Marta à minha espera que precisa de mim e que merece que eu não desista. Já ultrapassei 100% dos meus piores dias, mesmo quando achava que não ia conseguir. Só depende de ti Marta. Então vai lá e vai buscar a vida que te pertence. Não arranjes desculpas, não peças desculpas. É tua. Não te deixes criar raízes na solidão e na tristeza. Elas não são a tua casa, tu és. Aconteça o que acontecer. Confia na Marta do futuro para lidar com os problemas que virão. 

E confia agora em nós, Marta, em como vamos conseguir alcançar essa vida. Não quero viver mais passivamente. Vou fazê-lo por mim e por todas nós. Reclamar a vida que estou a trabalhar para alcançar. 

E teremos sempre a música, e café e o Sol, e livros, e escrita, e gatos, e amor e beijos e abraços. E pessoas boas e lágrimas, e flores, e risos altos e o chão para onde te mandares com a intensidade do riso. Vamos ter-nos sempre a nós. E o mundo. E estamos todos juntos nisto, por mais horrível que fique. Let's go. They are waiting for me. 


Volta, por favor.

Até à próxima,


Marta





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