6 de dezembro

 Faz hoje 2 meses que entrei na faculdade pela primeira vez.

Sinto, mais do que observo, que a Marta que vos escreve hoje é uma Marta bem diferente da de 2 de outubro de 2021, quando tudo começou. Ainda sou eu, claro. Serei sempre eu. Continuo a deitar-me no chão porque a vida é mais leve ao nível dos gatos. E escrevo este texto a chorar de emoção, como tudo aquilo que faço na vida. Ainda estou aqui. A grande diferença é que cheguei aqui. Algures na confusão da existência, a viagem que percorri nestes últimos 2 meses tornou-se íngreme. E eu nunca fui muito boa a escalar. Isso deixo para o meu pai. Sabia que ia ser difícil. Como a pessoa ansiosa que sou, quase que já sentia a 6 de outubro a falta de oxigénio que sentiria pelo caminho. E acreditem, senti. Houve alturas em que as vertigens eram tantas (pun intended), que só me apetecia parar. Ali mesmo. No meio da gigantesca montanha que eu não sabia que estava a escalar. Para alguns, felizmente, o meu percurso nestes últimos 2 meses não passaria de uma pedrita incomodativa dentro do sapato. Para mim, não foi. Não estava equipada e sabia disso quando comecei. Sabia que sobre a vida quase nada sabia ainda. Apenas sabia que precisava disto. Precisava do desconforto, das saudades, das dúvidas e da dor. 

Muitas coisas aconteceram nestes últimos dois meses. Saí de casa. Senti-me livre. Comecei a andar de transportes públicos em Lisboa. Tornei-me dona de casa. Senti muita responsabilidade. Entrei no curso que mais queria. Senti-me eufórica. Duvidei de mim a toda a hora. Senti-me miserável. Senti-me ansiosa. Mudei de curso. Então aí, senti-me perdida. E sozinha. E com muito, muito medo. 

E, entretanto, passaram dois meses e pus as vertigens de lado e decidi olhar para baixo. E wow. Estou cá em cima. Não no topo. Mas o topo não interessa. Estou aqui. Cheguei aqui. Comecei lá em baixo e agora estou aqui. Provavelmente, subi 2 metros apenas. E fui sempre aos recuos e avanços. Mas não parei na montanha. E o importante é não parar. It's the climb, como diria a icónica Miley Cyrus.

Estou mesmo orgulhosa de ter chegado onde cheguei. Aos meus meros 2 metros. 

Sabia que ia crescer com esta mudança. Porque o que é desconfortável e o que dói tem esse efeito. Mas não sabia quanto. 

Se calhar deveria ter escrito esta reflexão no final do ano letivo. Mas a aposta que fiz com o meu pai era sobre os 2 meses. Sobre o dia 6 de dezembro de 2021. Ele apostou comigo que passados 2 meses eu iria estar de pé. Eu não acreditei. Mas, digo-vos, soube mesmo bem perder esta aposta. 

A seguir de escrever este post, vou continuar a minha luta, desta vez com Histologia. A luta não acaba. O cumo da montanha está bem longe de onde me encontro. E se não ficar sem fôlego, foi um bom dia.

Mas é bom olhar cá para baixo, de vez em quando e perceber o quanto já alcançámos. Não tem de ser muito. Só tem de ser nosso. Pouco a pouco. Afinal, a vista é linda.

Até à próxima página,


Desbookada



Comentários

  1. Após ler isto, tenho vontade de escrever um textão, mas só te consigo dizer que estou tão, mas tão orgulhosa de ti.
    Estás de pé. E vais manter-te assim mesmo, em equilíbrio, como um Atlas, como um sacro que aguenta o peso de 24 vértebras para não nos desmancharmos todos. Se caíres, vais levantar-te, porque o teu coração vai continuar a irradiar sangue para todas as células do teu corpo e a pedir-te para continuares na guerra. És mais forte do que pensas. Farás mais do que imaginas. E, acima de tudo, és suficiente. Mais do que suficiente.
    Continua a escalar, uma pedra de cada vez :)

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