Debaixo do Sol

"Ai eu já pensei
mandar pintar o céu em tons de azul e ser original...
mas só depois notei que azul já ele é,
houve alguém
que teve ideia igual." 

E tal como o cantor da música, não sei se hei de fugir ou de morder o anzol. E é meio sobre isso que venho falar.

Desde sempre que fugimos. Está na nossa natureza, nos nossos instintos primários. Fugir é mais fácil do que ser apanhado por seja lá qual for o nosso predador. A dor de burro e a queimadura dos pulmões na busca por oxigénio valem toda a pena. Tudo vale a pena. Desde que não sejamos apanhados. Porque apanhados não temos controlo. Não temos saída. 

O meu predador são os sentimentos. Mas ao contrário de um coelho que nasceu com a anatomia perfeita para poder fugir aos seus predadores, com as suas patinhas em forma de z, eu nasci completamente sem proteções. Não sei como fugir deles. Continuo a tropeçar e quanto mais tento escapar, mais me enterro, qual areia movediça.

O meu sistema imunitário nesse departamento é tão eficaz como um recém-nascido a tentar cantar a música inicial. Parece que os meus nervos foram amplificados quando nasci e o meu coração sente tudo com uma intensidade desmedida e que ultrapassa a sua capacidade máxima. 

E isso magoa. Magoa porque um joelho cicatriza muito mais rápido que um coração esfolado. E o meu coração está constantemente a esbardalhar-se. E ao invés de criar barreiras, dá em masoquista e procura por novas maneiras de ser despedaçado. 

A atividade preferida do meu coração, excetuando receber oxigénio, é entregar-se. A tudo. A qualquer coisinha. Ele quer é sentir e rebolar e atirar-se de penhascos, com a esperança de saber voar.

E por mais discussões ruidosas e tumultuosas que ele tenha com o meu cérebro, ele é novo e ingénuo e não muda. Sempre foi muito teimoso...

No entanto, não sei se estaria preparada para uma realidade diferente.
Porque eu adoro os penhascos. E adoro a sensação de liberdade que deles advém. E adoro amar. Tudo e qualquer coisinha. E isso faz com que me magoe mais facilmente, é verdade. Mas é também o meu combustível. Ao entregar-me completamente, permito-me receber completamente. 

Tu recebes o que dás. E eu estou disposta a dar tudo. Mas nem toda a gente está. Nem toda a gente precisa. E nem toda a gente deve. Cada um tem de ser aquilo que precisa de ser. Sem justificações, sem permissões e sem medos.

E eu preciso de ser assim. Com as vantagens e as desvantagens e toda a tralha atrás. 
E se um dia o embate for demasiado forte, talvez aprenda algumas coisas.

Mas por agora, acho que vou morder o anzol, principalmente, porque sou muito feliz ao fazê-lo. 🙊

E só espero que vocês consigam ser aquilo que precisam de ser. Aquilo que querem ser. 
E que quando se perguntarem se vale a pena continuar, se lembrem da razão por que começaram, em primeiro lugar.

Até à próxima página,

Desbookada

P.S- Cumpri com a promessa, Rosalina 💛







Comentários

  1. Olá! Bravo. Já li e estas palavras merecem um comentário estruturado, incompatível com a escrita no telemóvel que é o que se pode arranjar. Estou a acompanhar o papá num exame (ecografia não sei das quantas...), Encostada à ombreira do gabinete só é mesmo possível escrevinhar estas palavras. O comentário profundo 😛 fica para mais tarde.

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    1. A ESCOLHA DO MOTE: Pensei na altura e volto a pensar agora, como é que lhe apareceu a ideia de ir buscar estes versos/letra de uma canção para desenvolver as ideias? Estaria a ouvi-la? Já tinha esta ideia guardada para um dia escrever?
      Terão resposta estas perguntas? :D Seria bom. A mim, como prof. de português, é muito importante perceber o que motiva o "outro" a escrever.


      Depois vem a ideia da fuga como algo que é da natureza humana. E, sim, é verdade. Para muitos, para uma grande maioria, a fuga é sempre a primeira opção ou aquela que achamos que é mais fácil. Evitar o resto.
      No entanto, atenção, nem sempre fugimos de um predador, às vezes, fugimos de nós mesmos... E, de certa forma, é para esse predador, o "eu" que encaminhas o texto. Porque, afinal, para ti, são os sentimentos o predador. E, sim, não há como fugir deles, dos sentimentos. Provavelmente, em vez de pensar neles como areia movediça, talvez seja mais rentável pensar neles como um mar. Ou até pode ser mesmo a água da piscina!!!!! Afinal, nadar sempre se pode aprender.
      Sabes nadar?

      Aprender a nadar, aprender a gerir os sentimentos. A sentir. Se fizermos isso, se os aceitarmos não precisamos de imunidade. Faz parte da natureza humana sentir. E há sentimentos que são nos fazem sentir vivos quando vêm com uma "intensidade desmedida". A paixão, o amor.

      Sentir em excesso pode magoar. Sim. Mas e isso é mau? Podemos aprender a moderar. Ou não. Não devemos é nunca deixar de sentir.

      Gosto dessa tua atividade preferida, a de se entregar. O teu coração é teu amigo. Vai por ele. E, afinal tu já sabes isso: "Ao entregar-me completamente, permito-me receber completamente."

      A questão de dar e não ter retorno persegue-nos. Sem dúvida. E isso deve impedir que deixemos de dar tudo? Deve fazer-nos contabilizar a quantidade da dádiva? Sinceramente, quem faz do ato de dar rotina, princípio, deixa muito cedo de se preocupar no retorno. Porque ele de uma forma ou de outra acaba sempre por acontecer. Quando se dá de forma genuína, já se encontra nesse ato o princípio desse retorno. Até porque nos apercebemos do efeito que têm as dádivas nos outros.

      "Morder o anzol" sempre. Experimentar. Viver.

      Chega o comentário estruturado mais tarde do que pretendia. Mas a vida também se faz com alguns atrasos. :)))))))

      Rosalina

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  2. "É preciso ter coragem para demonstrar os teus sentimentos! Aos insensíveis resta o consolo da cobardia". ~Rick Jones Anderson
    Que orgulho. Continua a ser inequivocamente tu mesma. Tal como sabes, o que se dá é devolvido em igual valor :)

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