Foste tu, Medicina.

Não me lembro de um mundo onde eu não quisesse ser médica. Por acaso até lembro, mas não se compara ao mundo onde eu sabia dentro de mim que eu nascera para ser médica e onde jurava que iria fazer tudo o que estivesse ao meu alcance, para que esse sonho tão inalcançável, pudesse ser concretizado.
Claro que na altura não sabia que conseguir entrar no ramo da medicina não é tão fácil como aparenta ser. 

É preciso atingir resultados extraordinários que só conseguem ser atingidos com dedicação integral e contínua, resiliência e muita determinação. 

Nada disso importava, pois à medida que fui entendendo na sua plenitude, o que significa ser médico, nada me fez mais sentido. Não me imagino a exercer outra profissão no futuro. O sonho entrou na minha mente, alastrou-se para os pulmões, alojou-se no coração e espalhou-se pela alma. Sou e respiro medicina. 

E isso assusta-me. Não pelo facto de querer tanto algo, mas por saber que caso não o consiga atingir, vou ficar destruída. Como não, se já faz parte de mim?


E porquê medicina? Porque não há nada mais extraordinário que o ser humano. Não há nada que me intrigue tanto como o corpo e a mente humana. Saber como funcionamos, como interagimos, uma vez que somos apenas carne e osso e outros milhares de compostos mágicos que eu quero muito conhecer. E porque mesmo que não seja a medicina o meu destino, eu SEI que tem de ser algo que me permita ajudar as pessoas e o mundo. E se posso combinar isso com a minha admiração pela obra prima que somos, então o resultado é MEDICINA. 

Mas o que sei eu de verdade? Amanhã posso mudar a minha perspetiva a 180 graus e arrumar o tão desejado objetivo. Posso perceber que afinal o resultado estava errado. E posso descobrir outra paixão.
No entanto, hoje ainda é hoje. E por isso vou fincar todas as minhas unhas e dentes em todos os obstáculos com que o Universo me quiser travar. 
E vai ser tão difícil. Vai doer tanto.  Desistir parecerá a decisão mais fácil. Mas por isso vou tentar. E dar tudo o que tiver. 
Caso não seja suficiente, saberei que tive um sonho. E há algo mais bonito que sonhar?

Aguenta firme, mundo, porque parece-me que estou prestes a voar.

Até à próxima página,

 Desbookada








Comentários

  1. Não sabia que era possível achar tão querido ver alguém tão determinado com um sonho. A sério. Tipo, eu estava ler e só me apetecia gritar: "PREPARA-TE, MUNDO, ELA ESTÁ PRESTES A VOARRRR!!"
    Não é novidade nenhuma para ti, mas sim, escolheste um sonho DAQUELES. Não vai ser pera doce chegares até ele, e o mais provável é que te depares com contrariedades e frustrações de fazer roer as unhas. Mas, credo... se mantiveres o foco e a garra que eu vi neste post, consegues isso e consegues TUDO!
    Quero ver-te voar, Desbookada :D

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  2. Olá!
    Assim que acabei de ler o texto, ocorreram-me estas palavras de Sebastião da Gama:
    "Pelo sonho é que vamos,
    comovidos e mudos.

    Chegamos? Não chegamos?
    Haja ou não haja frutos,
    pelo sonho é que vamos.

    Basta a fé no que temos.
    Basta a esperança naquilo
    que talvez não teremos.
    Basta que a alma demos,
    com a mesma alegria,
    ao que desconhecemos
    e ao que é do dia a dia.

    Chegamos? Não chegamos?
    – Partimos. Vamos. Somos."

    Depois, reli... E apeteceu-me partilhar estas palavras de Raúl Brandão:

    "O mar às vezes parece um véu diáfano, outras pó verde. Às vezes é dum azul transparente, outras cobalto. Ou não tem consistência e é céu, ou é confusão e cólera. De manhã desvanece-se, de tarde sonha. E há dias de nevoeiro em que ele é extraordinário, quando a névoa espessa pouco a pouco se adelgaça e surge atrás da última cortina vaporosa, todo verde, dum verde que apetece respirar. Diferentes verdes bóiam na água, esbranquiçados, transparentes, escuros, quase negros, misturados com restos de onda que se desfaz e redemoinha até longe. E ainda outros azulados, com a cor das podridões. Tudo isto graduado e dependendo do céu, da hora e das marés. Há momentos em que me julgo metido dentro de uma esmeralda, e, depois, numa jóia esplêndida, dum azul único que se incendeia. Mas a luz morre, e a luz agonizando exala-se como um perfume. É uma grande flor que desfalece. O doirado não é simplesmente doirado, nem o verde simplesmente verde: possuem um alma delicada e extática."

    É isso.
    E sonha, sonha sempre!

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